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Quem visita a 8ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo irá notar que dois temas permeiam a exposição – Gestão e Sustentabilidade.
Com enfoque nas transformações urbanas oriundas dos projetos para a copa do mundo de 2014 no Brasil, os organizadores da Bienal destacam a importância do planejamento e gestão para que os investimentos a serem realizados para o megaevento, o de maior projeção de mídia do globo, não se tornem grandes fracassos.
Existem vários exemplos de investimentos fracassados desse tipo, bem conhecidos, nacionais e internacionais, como o Ninho do Pássaro em Pequim e o Engenhão no Rio – que não atenderam propósito algum de mudança urbana ou social pós-evento, e consumiram muito mais recursos do que o estimado.
Com a palavra dos próprios organizadores “o maior desafio reside na necessidade de estabelecer um planejamento rigoroso de projetos e obras, visando a romper com o repetitivo padrão usualmente adotado no Brasil que conjuga a execução de obras mal planejadas com gastos muito superiores aos previstos e que como resultado pouco melhoram a qualidade de vida dos habitantes de nossas metrópoles”.
Ou seja, o planejamento e a gestão são chaves para que possamos aproveitar a oportunidade e os investimentos não só para receber os jogos, mas para resolver vários problemas de longo prazo, urbanos e sociais, que fazem do Brasil um país de extremos.
A questão “Sustentabilidade” também é central. Não só pelo seu aspecto “Verde”, mas principalmente pelo seu sentido mais amplo – aquele que conota continuidade, manutenção do que foi construído, existência através de gerações. Na BIA, a sustentabilidade foi tratada como tema. Mas ela deve ser vista como intrínseca a todo e qualquer planejamento arquitetônico e urbano nesse milênio.
A exposição cumpriu seu papel de levantar o debate. Mas o debate por si só não resolve as questões. Então, por onde começar? Quem responsabilizar pelas mudanças necessárias?
Como colocado pelos próprios organizadores, a responsabilidade é de todos os agentes envolvidos – “arquitetos, urbanistas, engenheiros, administradores públicos e profissionais de vários níveis, bem como de entidades privadas e governamentais.
Por onde começar? Sem desmerecer a complexidade da questão, deve-se iniciar imediatamente um trabalho de base educacional. As faculdades de arquitetura e engenharia devem incluir em seus currículos matérias sobre gestão e empreendedorismo. Os professores devem educar seus alunos não só técnica e criatividade, mas também gestão de processos, custos, e mercado. As entidades de classe como o IAB, ASBEA, e outras, devem promover a difusão de melhores práticas de gestão. Os profissionais devem investir na profissionalização da gestão de suas empresas e escritórios. E a mídia dirigida ao público envolvido precisa dar mais visibilidade às questões de gestão a fim de difundir a importância do tema, divulgar as oportunidades existentes, e fomentar o entendimento e a transparência dos processos de licitação e participação em obras públicas.
Iniciativas de base levam algum tempo para mostrarem seus resultados, mas somente elas podem garantir sustentabilidade e realizações de longo prazo, fugindo do imediatismo e dos interesses particulares que tanto prejudicam nosso país.